A lei imaterial (marxista e desordeira) da atracção
As ideias puxam-se, sem reconhecimento de propriedade e sem respeito hierárquico pela cabeça donde saem, umas pelas outras, por estranhos meios, sem serem formalmente apresentadas...
«O prazer é o principio e o fim de uma vida feliz.» Epicurus
A lei imaterial (marxista e desordeira) da atracção
O EpiCurtas que não tem passado por cá, tem estado no ringue EpiCurtas Vs Anarquista.
A Europa Europeia
(resposta a Rui Pena Pires e ao seu post A Europa branca)
[em simultâneo com o EpiCurtas v Anarquista]
Nada contra a Europa “crioula” e, definitivamente, em completo desacordo com essa história da Europa “branca”. Mas pensar que a Cultura não é coisa que também se transmite “guardada no baú do enxoval” e de “geração em geração”, crendo, unicamente, que esta se resume a “um conhecimento que se aprende” (o que quer que isto queira dizer!) é das afirmações mais falaciosas e, sobretudo, ideologicamente marcadas que, sobre este tema, se pode fazer. Tão ideológica como a da “Europa branca”.
Mas o texto do Rui Pena Pires tem, para lá desta pequena artimanha ideológica, mais três pontos de interesse, dois que são ditos e um que não é dito, mas devia ser: (i) um equívoco (dito), (ii) uma estranha afirmação (dita) e (iii) um conveniente esquecimento (não dito, portanto).
(i) o equívoco – que é, em boa verdade, mais um paradoxo – prende-se com a construção da Identidade nacional. As Identidades, sejam lá elas quais forem, assentam em três pilares essenciais, que de um modo grosseiro, podem ser definidos assim: quem somos e o que é que nos caracteriza mais fundamentalmente?; o que é que dá consistência ao nosso percurso enquanto grupo, donde vimos e para onde vamos?; e de quem é que nos distinguimos? Ora, este último aspecto é inexorável e, quer o Rui Pena Pires queira quer não, a construção identitária das nações responde com “os estrangeiros” a esta última questão. Bem sei a fragilidade que o cosmopolitismo de alguns grupos sociais conferiram a esta coisa das fronteiras, mas também sei, e o Rui Pena Pires também sabe, mas parece esquecer, que há os outros, aqueles que são mais sensíveis a esta coisa dos “outros” de outras raças e/ou de outras nações. E eu não creio que a coisa lá vá por via da Educação das massas por parte do paternal Estado-Providência. No fundo o problema é bem mais complexo que o aparente diagnóstico e a receita é, indubitavelmente, mais complexa que a mera prescrição de “Europas Brancas” ou de “Europas crioulas”
(ii) a estranha afirmação tem a ver com a defesa da rápida nacionalização e europeização dos estrangeiros! Em primeiro lugar porque alguns dos “estrangeiros” são, também eles, europeus, e este aparente esquecimento é sintomático, mas muito mais estranho que isso é a propensão para o “tratamento” cultural que Rui Pena Pires parece propor para esses Bijagós das Africas selvagens! É que a minha ideia de Europa, e eu é que sou de Direita, é muito mais aberta à diferença. Não me passaria pela cabeça quer europeizar um africano ou um asiático. E isto lança-nos para o último ponto…
(iii) o conveniente esquecimento. É porque se não me passa pela cabeça europeizar um africano ou um asiático, também não admito que, ecoando de onde quer que seja, me venham forçar a abdicar de alguns dos pilares mais essenciais da minha civilização, como a liberdade de expressão (para dar o exemplo mais recente). E sobre isto, o Rui Pena Pires tão preocupado com a Europa e a sua identidade, não diz uma palavra. Não diz uma palavra sobre todos os europeus que pedem desculpa ao mundo por serem herdeiros de uma civilização que, até prova em contrário, se mostra, apesar de todos os defeitos, muito mais tolerante, solidária e livre que a maior parte das outras.
O despudor não tem limites!