O caldo cultural do bloco.
Conversa entre dois anti-fascistas, gastos pelo tempo e já menos combativos. Alentejanos. Um comunista desde os tempos das perseguições da pide, trabalhador do campo, e um metalúrgico, da UDP, rude e com ar cansado. Pacificados um com o outro, já que o espanto que lhes causa a modernidade é agora bem maior que as fracturas que noutros tempos os separavam.
- Então, que tal vai isso. Ainda lá vais às reuniões, pá?
- Ainda. Tu sabes que eu sempre fui UDP. Agora encontramo-nos lá no bloco, em Lisboa.
- Então e que tal?
- Eh, pá. Aquilo é porreiro, pá. O Francisco é bom, sabe o que faz e com ele ninguém faz farinha. Mas, o ambiente é um bocado estranho...
- Que é que queres dizer com isso?
- Não é como dantes. Como era nas nossas reuniões da UDP, cá por Beja.
- Não percebo o que é que queres dizer...
- Aquilo está cheio de maricas, Zé! Uns moços cheios de tiques esquisitos. Esta juventude é uma merda. Já não são como nós. No nosso tempo se apanhassemos um gajo daqueles lá na Metalúrgica davamos-lhe cabo do canastro.
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