quinta-feira, janeiro 19, 2006

As eleições presidenciais e a esquerda
Os meus amigos de esquerda – que são alguns – quando se fala de presidenciais e me perguntam, com ar incrédulo, se vou votar Cavaco (ou Sr. Silva, ou no gajo – dependendo dos casos) e eu respondo que sim, olham-me com um olhar compassivo e sofrido, como se, de repente, aos seus olhos, eu passasse a padecer de um mal maior. Como se de repente, passasse a ser um vulgar homem do povo, iludido, sem classe e sem educação; no fundo, um bronco. Nunca a esquerda tinha mostrado de forma mais evidente uma das suas mais estruturantes características que nesta eleições: o seu snobismo intelectual.

Mas esta atitude é particularmente interessante para revelar o carácter da esquerda portuguesa. Aquela que alardeia a sua participação no “25 de Abril” – reclamando sobre a (r)evolução e o Portugal democrático direitos de autor e fortes constrangimentos estéticos -, a mesma que defende “a vontade do povo”, a “soberania do povo”, a “democracia”, como se tudo isto fizesse parte do seu inalienável espólio, é a mesma que, quando o “povo” expressa a sua “vontade”, em “democracia” e de forma “soberana” em favor de um candidato de “direita”, enxovalha do povo de inculto, de mal formado e mal agradecido e de ser permeável ao populismo.

Há, parece-me, entre outras coisas, uma muito evidente que falta à “intelectualidade” portuguesa: a honestidade!