WOLFGANG AMADEUS MOZART (Apontamento epicurista, ou de como os prazeres se cruzam)
Devia ter 10 anos. Por esta altura via todos os filmes que passavam no agora, desde há anos, encerrado cinema do Pão de Açúcar de Cascais: o Miramar. Sem critério. Terá nascido aqui, ou talvez um pouco antes, no também finado S.José, ao lado do Jardim Visconde da Luz, o meu gosto pelo cinema. Mas foi ali, definitivamente, que nasceu a minha paixão pela música do Mozart. Entrei, sentei-me na sala e esperei o “filme”. O cartaz dizia Flauta Mágica. Por aquela altura não se comiam pipocas no cinema, os Looney Tunes não incentivavam, portanto, à sua compra e também não havia publicidade a anteceder os filmes. Passavam documentários ou filmes de animação muito curtos. Curtas-metragens. O filme, dessa vez, começou logo e eu demorei tempo a perceber o que se estava a passar. Aquilo não era o documentário e o filme não viria a seguir. Eu estava a ver uma ópera. Era esse o “filme” que eu tinha ido ver. E foi nesse dia que, pela primeira vez, senti o toque de Mozart. Quando o papagueno e papaguena dialogaram entre si.
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