Romance de recordações e memórias. Sou pouco dado a classificações formais da literatura ou de outra coisa qualquer. Por duas razões. Por incomensurável insuficiência de leitura – no caso da literatura. Por pedante desinteresse num saber sistémico, arrumado e cristalizado. Mas gosto de ler. Gosto de comentar o que leio. De perscrutar intenções, de adivinhar influências ou simplesmente de me deixar envolver pela narrativa. Mobilizando todos os sentidos. Ajustando imagens, imaginando cheiros e formas, agonizando ou exultando, lançando-me em introspecção ou simplesmente exteriorizando o que quer que seja. Sobretudo adoro partilhar a leitura. Sou daqueles inomináveis que a toda a hora quer ler ao outro “só esta passagem”. Não é C.?
Hoje falo-vos do livro que estou a terminar. Um livro que me apetece classificar, livremente, como o senti: um romance de recordações e memórias. Mais do que um romance histórico ou a narrativa de uma demanda, Lourenço Marques é um registo de memórias. Memórias reais ou inventadas. Mas memórias. Um rol de referências, de apelos do e ao passado. Uma viagem a um local onde nunca estive, num tempo que nem sequer vivi. Mas uma viagem que me leva, apesar de tudo, lá. A esse tempo. A esse lugar. É assim a literatura. Uma vez mais, obrigado, Francisco.
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