sábado, agosto 09, 2003

“Quem com ferros mata, com ferros morre”, toca o balancé infantil antes de encetar a cantoria. Que acompanhará a dança e alegrará a criança. Surreal! “Será normal?!” Guerra Junqueiro. A avenida. Quinze minutos de esplanada. Não, não era a Mexicana. Oito indigentes. Dos oito, sete agarrados, jovens, e uma idosa de 80 anos. Pedem esmola. De entre eles, uns intimidam, outros limitam-se a pedir. Uns provocam e desafiam. Outros resignam-se e vão. Ela suplica em atenção à idade, ao desaparecimento do marido, à parca reforma. Vocifera contra a maldade do mundo, os incendiários. Tias para cima. Tias para baixo. Muita cosmética. Exteriores sinais de riqueza. Suuuuuuuuuper bem parecer. Eu e outros a esplanar… Desocupados. Poucos a trabalhar, mas afanosamente. Para a frente e para trás. “Um batido de maracujá”. “Um café com adoçante.” “Uma torrada, não muito queimada, e um néctar de pêssego.” “A conta fáchavor.” “Olhe, a torrada veio muito queimada.” “Esta velhota não tem vergonha… recebe duas reformas e anda aqui a pedir.” O entardecer de um Sábado de Agosto, na Guerra Junqueiro. Lisboa. Retrato de um Portugal doente. Superficialidade, maledicência, arrogância. Drogados e idosos maltratados. “Quem com ferros mata, com ferros morre.” Morrerá?