sexta-feira, novembro 18, 2005

Professores: dois posts do Waldorf e uma reposição aqui no EpiCurtas.

1. VERGONHOSO, DISSE ELE
Relativamente aos estabelecimentos de ensino que estão a recorrer a aulas de substituição e "ateliers" de tempos livres para ocupar os alunos no caso dos docentes faltarem devido à greve, o sindicalista [António Avelãs] não questionou a legalidade deste procedimento, mas considerou-o "vergonhoso".Ao ocupar os alunos, as escolas estão a tirar um rendimento extra aos cafés e, pior do que isso, a permitir aos pais dos alunos terem um dia de trabalho normal. Coisa que, já se sabe, não entra na cabeça de alguns vergonhosos profissionais do sindicalismo que se eternizam nos cargos. WALDORF

2.PREOCUPAÇÕES RELATIVAS
A professora chamou os pais dos alunos à escola para nos explicar que uma universidade tinha pedido autorização para que os alunos participassem numa investigação sobre o ensino da Matemática. Mostrava-se algo reticente porque essa investigação ocuparia oito horas mensais e, a ser assim, talvez não conseguisse acabar a matéria. Os pais estavam preocupados. Como vi o caso mal parado, tentei explicar a importância destas investigações e a irrelevância das oitos horas necessárias. Recordei-lhes que na semana anterior, no dia de S. Martinho, não houve aulas porque a escola organizou um magusto. Apesar de hesitantes, os pais acabaram por concordar com a participação dos filhos.Hoje, a tal professora preocupada com a falta de tempo para acabar a matéria, fez greve.WALDORF

3. A greve dos professores ou a cara e coroa de uma pequena injustiça sobre uma mor injustiça.
A CARA
Sou professor. Faz dez anos sou professor na Escola Primária de Tanacingo, Zac. Já tive muitos alunos nessa escola. Creio que sou um bom professor. Pelo menos julguei-o até que me saiu aquele Panchito Contreras. Não me ligava nenhum, nem aprendia nada, porque não queria. Nenhum dos castigos surtiu efeito. Nem morais, nem corporais. Olhava-me insolente. Roguei-lhe, pedi-lhe. Não tinha medo. O resto dos miúdos começaram a rir-se de mim. Perdi toda a autoridade, o sono, o apetite, até que um dia não pude aguentar, e para que servisse de exemplo enforquei-o na árvore do pateo.

Max AUB, Crimes Exemplares

A COROA

Sou aluno. Faz 9 anos que sou aluno. Já tive muitos professores. Creio que sou um bom aluno e que merecia da sua parte alguma consideração. Pelo menos até ter estudado arduamente, nestes dias de calor insuportável, para o exame e ter notado que quando lá cheguei para o fazer não havia professores para o fiscalizar. Não me ligaram nenhum, não pensaram em mim, porque numa guerra que não sei se têm razão ou não resolveram penalizar os inocentes. Não lhes vou bater, nem insultar. Também não lhes vou rogar ou pedir seja lá o que for. Vou simplesmente apontá-los na rua e dizer: “Eis, quem ali vai é um professor!”. Sei que é muito injusto para muitos deles, mas sentirão, não tenha a abjecção tomado, por completo, conta do seu ser, o anátema.

(21 de Junho de 2005)