terça-feira, junho 21, 2005

A greve dos professores ou a cara e coroa de uma pequena injustiça sobre uma mor injustiça.

A CARA
Sou professor. Faz dez anos sou professor na Escola Primária de Tanacingo, Zac. Já tive muitos alunos nessa escola. Creio que sou um bom professor. Pelo menos julguei-o até que me saiu aquele Panchito Contreras. Não me ligava nenhum, nem aprendia nada, porque não queria. Nenhum dos castigos surtiu efeito. Nem morais, nem corporais. Olhava-me insolente. Roguei-lhe, pedi-lhe. Não tinha medo. O resto dos miúdos começaram a rir-se de mim. Perdi toda a autoridade, o sono, o apetite, até que um dia não pude aguentar, e para que servisse de exemplo enforquei-o na árvore do pateo.
Max AUB, Crimes Exemplares

A COROA
Sou aluno. Faz 9 anos que sou aluno. Já tive muitos professores. Creio que sou um bom aluno e que merecia da sua parte alguma consideração. Pelo menos até ter estudado arduamente, nestes dias de calor insuportável, para o exame e ter notado que quando lá cheguei para o fazer não havia professores para o fiscalizar. Não me ligaram nenhum, não pensaram em mim, porque numa guerra que não sei se têm razão ou não resolveram penalizar os inocentes. Não lhes vou bater, nem insultar. Também não lhes vou rogar ou pedir seja lá o que for. Vou simplesmente apontá-los na rua e dizer: “Eis, quem ali vai é um professor!”. Sei que é muito injusto para muitos deles, mas sentirão, não tenha a abjecção tomado, por completo, conta do seu ser, o anátema.