Henrique Barrilaro Ruas.
Diz Pedro Mexia, no seu Dicionário do Diabo:
IN MEMORIAM: Sou, como talvez saibam, simpatizante da causa monárquica (com minúscula). Monárquico por tradição familiar e sensível ao argumentário em favor do regime (bem mais sólido do que a caricatura habitual), nunca consegui porém passar de «simpatizante» a «adepto»; e por uma razão: os monárquicos. Os monárquicos - os portugueses ao menos - são na sua maioria os maiores patetas com quem me foi dado conviver. Dez minutos a conversar com monárquicos e sinto-me pronto a depôr flores no António José de Almeida; um jantar com monárquicos e meto o barrete frígio. A snobeira, a indigência intelectual, o absentismo, a pura idiotice, eis as marcas dos monárquicos portugueses que tenho conhecido. É por isso que não queria deixar de assinalar a morte do monárquico mais decente que conheci até hoje: Henrique Barrilaro Ruas. Barrilaro Ruas era a prova (mas não a regra) de que os monárquicos podem ser cordatos, probos, intelectualmente sérios, preocupados com as questões que importam, humildes, eruditos, cavalheirescos. Infelizmente, não conheci muitos assim. Ainda recentemente me chegaram às mãos trabalhos de Barrilaro, sobre Camões e Maquiavel. Ainda há semanas estive num jantar onde Barrilaro também esteve presente, e uma vez mais o achei um habitante de um planeta dos nossos grunhíssimos monárquicos (mesmo em assuntos nos quais não estávamos de acordo, como a Europa). Foi o melhor exemplo de monárquico do último meio século, pelo menos o melhor dos que conheci. Agora, estamos reduzidos aos palermas de bigode retorcido.
Posted by: Pedro Mexia / 10:26:55 PM
Henrique Barrilaro Ruas foi um senhor que aprendi a respeitar, pelo respeito pelos outros que sempre fui capaz de lhe vislumbrar. Um monárquico sem tiques toureiros nem "bigode retorcido"; um monárquico para quem o municipalismo sempre foi mais importante que a prosápia fadista e anti-republicana. Eu também fui simpatizante monárquico, como o Pedro Mexia diz ser. Ante o falecimento de Barrilaro Ruas, resta-nos um monárquico decente em Portugal: Gonçalo Ribeiro Telles; e como tal, torna-se ainda mais dificil a identificação com uma causa de gente maltratada pelo tempo, que veste blaser azul, com cheiro a naftalina, com a coroa real na lapela, e vai ao beija-mão, ao Castelo de S.Jorge, por altura do jantar dos conjurados, saudar o D.Duarte.
Paz à sua alma, caro Henrique.
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