quinta-feira, julho 03, 2003

Gestão de impressão, presunções não testadas e a ilusão do controlo II. Responde-me, por mail, JN:

Caro Tyler Durden,

Em primeiro lugar, obrigado pela interessante e instigante mensagem.
Seguem algumas observações aos seus comentários:

1. Boa parte do que diz parece-me ser clarificador, de um ponto de vista
conceptual, para o que escrevi. A clarificação que propõe, sendo pertinente,
não me parece entrar em contradição com o conceito de gestão de impressão. E
isso porque a gestão de impressão é sempre um «esforço» e uma «tentativa»
(da parte de quem a tenta) e por conseguinte, é também um "comportamento a
partir de uma análise subjectiva, assente em premissas sobre o “outro” não
testadas". Parece-me que as objecções que levanta se dirigem mais à
designação do conceito (questão da nomenclatura goffmaniana: gestão de
impressão ou administração de impressão), do que ao seu conteúdo. E
discordar da designação de um conceito, parece-me, não é sinónimo de
discordar do seu conteúdo. Logo, parece-me ser uma questão a um nível
epistemológico diferente da que coloca. Conseguintemente, lendo o que
escreveu fez-me colocar a questão da pertinência da designação seleccionada
por Goffman. E, no que a isso diz respeito, julgo que, de facto,
justificar-se-ía uma outra solução.

2. Diz ainda: «Interessante não tenho dúvidas, mas, JN, preocupante
porquê?!».
Ela é interessante sociologicamente. O seu interesse não é, todavia,
exclusivamente sociológico. Desenvolvi isso num dos comentários (não sei se
leu) em resposta ao Mário (Retorta), falando de como para pessoas com
sintomatologias depressivas (ou mesmo perturbações comportamentais e
psicopatias) a ansiedade do feedback poderia ter efeitos nefastos, por
amplificar os sintomas a ela associados. Mas, como também sublinhei nesse
comentário, essa questão diz respeito à psicologia clínica (e, quiçá, à
psiquiatria). Não à sociologia (quer dizer, poderá ser de interesse para
algumas formas de sociologia clínica ou aplicada).

3. Disse ainda: "Diz ainda, antevendo-se que o faz numa lógica de vislumbre
táctico, que de duas que desenvolve - entre outras,
depreende-se - possibilidades de acção...".
Quando o disse, estava a pensar designadamente naquilo que Goffman designa
de «perturbações de desempenho» (ele enumera os gestos involuntários, as
intromissões inoportunas, os passos em falso, as cenas...). Achei
desnecessário mencioná-los, não por uma questão táctica (deixar pontos
de fuga), mas para não perturbar a clareza e coerência do argumento.

Um abraço,
João N.


Prometo, assim que a oportunidade e a vontade se encontrem, responder a alguns aspectos mencionados. Parece-me que temos aqui "pano para mangas".