quarta-feira, julho 02, 2003

[resposta ao post de 01.07.03, do Socio[B]logue] Gestão de impressão, presunções não testadas e a ilusão do controlo. Traz-nos João Nogueira, no seu Socio[B]logue, sob a questão dos blogs, um interessante tema a reflexão, que largamente extravasa a questão que ali o justifica. Diz “(…) «gestão de impressão»: conceito desenvolvido por Erving Goffman (1993) para se referir aos esforços das pessoas para gerirem a imagem que os outros têm de si, por meio do controlo das impressões que projectam no(s) outro(s). A premissa fundamental desta noção é, como sugere o psicólogo social Barry Schlenker, a de que “conscientemente ou inconscientemente, as pessoas tentam controlar as imagens que projectam para as audiências, reais ou imaginadas” (Schlenker, 1980: 304)." Seria, assim, uma gestão (fundada na mais linear sequência lógica da própria gestão: gerir controlando, controlar medindo) das impressões que causamos nos outros. Presume-se assim, que por via da afirmação ou, simplesmente, contornando essa necessidade, seria possível controlar a impressão que os outros constroem sobre o “eu”. Diz ainda, antevendo-se que o faz numa lógica de vislumbre táctico, que de duas que desenvolve - entre outras, depreende-se - possibilidades de acção, uma delas é “(…) o receio de «faux pas» [que] reporta-se a um temor face à possibilidade de projectar uma imagem de inconsistência e incongruência (receio de cometer gaffes, de denunciar falta de cultura, etc.) que coloque a própria pessoa em causa.” Salvaguardando a premissa - não afirmada, contudo, mas com que JN concorde -, que a não participação encerra em si mesmo um significado e um valor comportamental para os outros que o avaliam, partimos, presumo, da certeza da “impossibilidade de não comunicar” (Watzlavick, ?). Assim, importa acrescentar a esta análise, pertinente mas incompleta, as presunções não testadas. Argyris e Schon (1974, 1978) afirmam que os indivíduos usam reagir (aqui, no mais lato senso da expressão: construindo impressões, formulando juízos, agindo, …) a um comportamento a partir de uma análise subjectiva, assente em premissas sobre o “outro” não testadas. Essas reacções são absolutamente incontroláveis pelo “outro” e definitivamente imprevisíveis. O que temos é menos uma gestão (mensurável e, consequentemente, controlável) da impressão dos outros sobre o “eu”, mas apenas mais uma – entre tantas… -manifestação da “ilusão do controlo”. Diz, terminando, JN: “Este fenómeno é tão interessante, de um ponto de vista sociológico, como preocupante.” Interessante não tenho dúvidas, mas, JN, preocupante porquê?!

Argyris, C. e Schon, D.A. (1974) Theory in pratice: increasing professional effectiveness. San Francisco: Jossey-Bass
Argyris, C. e Schon, D.A. (1978) Organizational learning. Reading, Mass.: Addison Wesley
Goffman, Erving (1993), A Apresentação do Eu na Vida de Todos os Dias, Lisboa: Relógio D’Água
Watzlavick, Paul (?) A pragmática da comunicação humana