segunda-feira, junho 09, 2003

Poderemos planear que um bater de asas nos trópicos pode provocar um furacão nos EUA?
Notas sobre planeamento

Considerações prévias

0. Aconselho vivamente a leitura de Mintzberg, H. (?). The fall and rise of strategic planning. A complementar a leitura deste, o artigo de Phelan, Steven:1997. «From chaos to complexity in strategic planning: Implications for theory and practice». Comportamento Organizacional e Gestão. Vol.3. n.º1. pp. 95- 103. Neste tecem-se importantes considerações em torno da pertinência do planeamento estratégico em sistemas complexos. («Resumo: Os sistemas caóticos são conhecidos por demonstrarem uma grande sensibilidade em relação às condições iniciais, o que torna impossível fazer previsões e planeamento a longo prazo. No entanto, os sistemas complexos podem existir em, pelo menos, dois destes quatro estados.»);
1. Não farei nem um resumo, nem uma viagem orientada pelo texto do Mintzberg, mas tão só alguns comentários avulsos que me surgiram ao longo da leitura;

Comentários

2. Mintzberg posiciona o Planeamento Estratégico no tempo; este facto inibe-o de evolução. Todas as evoluções ao conceito são encaminhadas para o enriquecimento de um novo conceito, o de Pensamento Estratégico. O efeito que tem na discussão académica será, parece, inversamente proporcional ao efeito que tem na compreensão quotidiana. A cristalização dos conceitos, bem como de ideias soltas, pode entorpecer o caminho do saber não académico. Melhor: alguns defensores do Planeamento Estratégico, que entretanto haviam já aportado ao conceito evoluções importantes, foram contestados por outros que, pensando o mesmo que eles, se haviam apropriado do conceito Pensamento Estratégico.
3. Sem questionar a validade da afirmação: «Planners should make their contribution around the strategy-making process rather than inside it», ao defender um clima que promova a dúvida, as perguntas, mais do que uma corrida atrás da one best way, rompendo com as categorias do próprio Planeamento Estratégico, Mintzberg toma partido e deixa subentendida uma visão da sociedade e dos mercados; da envolvente. Uma envolvente em permanente mudança, turbulenta, que sabe que o sucesso depende da capacidade de inovar, no sentido de criar mercados, e não de se adaptar a eles. Só assim faz sentido a promoção da ruptura e não a defesa da continuidade.
3.1. Deste entendimento, de resto, percebe-se o posicionamento de Mintzberg junto dos defensores da premissa de que as organizações estão no estado caótico (c.f. Phelan:1997);
3.2. Vejamos pois algumas afirmações que suportam esta visão: «chaos theory has been represented more on a metaphoric or intuitive [apesar de Phelan procurar fazê-lo por via cientifica] level in the recent management and strategy literature. "Intuitively, the patterns we observe... all point to the importance of chaos in the pratice of business management. The failure to predict… provide(s) further intuitive support" (Stacey). Stacey then goes on to say that he can only find two publications that adopt a chaos approach to management and organization. It would seem that increased turbulence in the business world and the widely reported accelerating rate of change is sufficient to label a system as chaotic» (ibidem). E ainda: «All authors agree that long-term or strategic planning is futile in a chaotic environment:"…if one accepts the premise that the dynamic of success is chaotic… all forms of long-term planning are completely ineffective" (Stacey).» (ibidem).
4. A mim parece-me pertinente a visão de Mintzberg. Neste burilo de ideias acrescentaria ainda que o Planeamento Estratégico, bem como o Operacional, deverá ser entendido como mais uma das condições iniciais dos sistemas (e esta ideia parece-me importante!) que interagirá com outras variáveis e produzirá efeitos não lineares.
5. Uma nota final: Phelan entende que nem todas as organizações se encontram em estado caótico e que algumas se encontram em ambientes estáveis. Este entendimento fá-lo afirmar que o Planeamento Estratégico mantém a sua validade, portanto, para determinadas condições. (O modelo que utiliza, bem como a argumentação, não são simples!)