quinta-feira, março 02, 2006

Por falar em Ruralidade, 1
[O Rui Ângelo Araújo iniciou um debate sobre a Ruralidade que vale a pena alimentar]

Quando se fala de Ruralidade e de Urbanidade estamos a falar de quê? O Rui fala de aldeias e, inevitavelmente, de cidades. Mas eu que moro em Cuba do Alentejo, não julgo que viva propriamente na Ruralidade, nem creio que muitos idosos, que viveram a vida toda em Lisboa, por exemplo em Alfama, tenham conhecido a Urbanidade. Mas então, se não é, como para o Urbanismo e para a Arquitectura, o espaço edificado, na sua extensão ou na sua qualidade, respectivamente; se não é, como para a Economia, a actividade agrícola dominante, o que é?

Vejamos mais alguns exemplos paradoxais. Em Lisboa há milhares de casas com as instalações eléctricas por fora das paredes, com casas de banho improvisadas na antiga varanda, agora marquise. Em Cuba, a biblioteca pública tem infra-estrutura wireless e os putos do ensino básico invadem-na diariamente com os seus portáteis para aceder à net. Em Lisboa – entenda-se Área Metropolitana de Lisboa – há pessoas que fazem diariamente 60 quilómetros (30+30) em 3 horas (1h30m + 1h30m) e esses são, pura e simplesmente, os únicos quilómetros que fazem. Eu demoro, a partir de Cuba, a mesma hora e meia para fazer 180km. Em Lisboa há gente que não tem endereço de correio electrónico e na Marginal, na Ponte 25 de Abril e na A5 há falhas de cobertura da rede móvel. Em Cuba não só tenho cobertura sem falhas, como despacho algumas dezenas de e-mails por dia. E estou certo que, apesar das limitações que os dois diabretes que lá tenho em casa me causam, continuo a ir mais vezes ao cinema, ao teatro e a exposições que muita gente com o meu perfil sócio-económico-cultural que vive em Lisboa.

O que será então?
(continua…)

3 Comments:

At 9:21 da tarde, Blogger Fernando Rola said...

É tempo de redimensionar o sentido de algumas palavras e acabar com sofismas. O seu texto é um excelente exemplo de como é fácil errar quando não se questiona a evolução dos conceitos. Já agora, parabéns pela qualidade de vida de que me parece usufruir nessa "ruralidade" que arrasa o modus vivendi de tantas "urbanidades" que conhecemos

 
At 1:21 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Será que o conceito de rural e urbano ainda fazem sentido?
Infelizmente fazem.
A oito quilómetros de Grandola não tenho adsl nem sinal de telemovel.
A sete quilómetros de Arganil: idem
Empregos? - Não há!
Poder de compra? - Não há!
Talvez um urbano consiga viver na "provincia" e ir mais vezes ao cinema do que na cidade, mas isso quer dizer o quê?
Ser rural hoje significa:
1-Andar sempre com a mesma roupa.
2-Não fazer a barba e tomar banho uma vez por semana.
3-Fazer um pouco de agricultura de subsistência.
4-Não comer "nunca" em restaurantes
5-Ter um carro velho
6-Não ler livros
7-Comer uns petiscos na tasca e beber vinho a granel.
8-Não ter perspectivas de vida no local em que se está, nomeadamente formação,grupo de amigos e evolução profissional.
9-Não ter dinheiro para uma viagem de férias.
Nas cidades é muito diferente?
Por vezes não, mas existe uma nuance:
1-Acreditar que se pode melhorar.
Na ruralidade, nem isso!

 
At 7:26 da tarde, Blogger Fernando Rola said...

Carlos Arinto

As 9 "leis" que aponta à ruralidade podem ser encontradas em qualquer cidade, inclusive a nº 3. Já agora, essas não são 9 "leis" da ruralidade, são (na maioria) normas de como não se deve viver, na urbanidade ou na ruralidade.

 

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