terça-feira, fevereiro 17, 2004

Ainda o futebol português, o fair-play, a decência, a morte de Feher e as hipocrisias dos costume… A morte de Miklos Feher consternou Portugal. E após o choque que colheu de surpresa e incontida agonia – já que a morte é para estar escondida… - todos os portugueses, lestos foram os que desencadearam o chorrilho habitual de vulgaridades e disparates. Ele era o exemplo que vinha iluminar as nossas vidas, ele era a reforma profunda no futebol português que facilitaria. Enfim, as tontices habituais. O que ninguém disse, com a veemência que merecia, até porque o momento reclamava a sobriedade que não se teve, era que algumas das mais destacadas carpideiras eram, também, os hipócritas do costume.

Senão vejamos: Rui Mendes, um adepto de futebol, pai de filhos menores e único sustento da família, sai, num bonito dia de sol, para uma festa no Estádio Nacional. É a festa do futebol, como se anuncia. A organização está a cargo da Federação Portuguesa de Futebol e as equipas para a final da taça são o Sporting Clube de Portugal e o Sport Lisboa e Benfica. Rui toma lugar na superior destinada aos adeptos leoninos. O jogo começa. E, de repente… é fulminado por um very-light assassino, ficando a fumegar no meio da bancada até que os bombeiros o venham recolher. O jogo parou? As pessoas abandonaram o estádio? NÃO!!! Tudo continuou com a normalidade dos insensíveis. Dos irresponsáveis. Dos hipócritas. Mas a triste estória não fica por aqui. Há alguns dados ainda mais escabrosos e reveladores das falsas purezas do futebol português. O energúmeno adepto do Benfica que lançou o very-light chama-se Hugo Inácio. Anda a monte, depois de ter fugido do estabelecimento prisional onde se encontrava detido. Exactamente esse Hugo Inácio que figura numa tarja dos NoName Boys, a claque do clube da Luz, que não qualifico e que diz: «Hugo Inácio, eterno herói»!!!! Uma tarja que, ainda o ano passado, no jogo que opôs o Sporting ao Benfica na luz ainda se via bem erguida na bancada da claque encarnada. Numa prova organizada pela Liga de Clubes. A mesma que brada pelo fair-play. Mas e a Federação Portuguesa de Futebol? A tal que organizou o evento que, após a morte do malogrado adepto, continuou sem que nada fosse? Interposto um processo, pela família da vítima, contra a FPF e tendo esta sido condenada a pagar a quantia de 30 mil contos (menos de 2 meses de salário do Sr. Scolari), recorreu da sentença. E a família que se foda!!!! É esta a moralidade do futebol português… Mas hoje saiu esta boa notícia:

RELAÇÃO OBRIGA FPF A PAGAR 47 MIL CONTOS POR MORTE NO JAMOR
Pena agravada no caso 'very light'

A FPF viu agravada de 30 mil para 47 mil contos a pena de indemnização a pagar à família de Rui Mendes. A decisão, conhecida ontem pelos familiares do adepto do Sporting que morreu vítima de um "very light" no Estádio Nacional em 1996, foi tomada pelo Tribunal da Relação.

Assim, em vez dos 30 mil contos que recusara pagar até ao momento, a Federação terá de desembolsar 234 584,65 euros (cerca de 47 mil contos) como indemnização à viúva e aos filhos de Rui Mendes. Este valor será acrescido de juros de mora.

Jorge Fagundes, o advogado que patrocinou a defesa da família em conjunto com Guilherme da Palma Carlos, considerou justa a sentença conhecida ontem. "Julgo que foi feita justiça e estou seguro que a FPF não terá a falta de hombridade e honestidade para continuar a não pagar. Para mais, numa altura em que tanto tem investido no Euro-2004", afirmou o jurista. A actual decisão do Tribunal da Relação é ainda passível de recurso, e foi originada por um outro pedido da família ao Supremo, em Abril de 2003. O Supremo Tribunal de Justiça ordenou a reapreciação do processo pela Relação, que aumentou o valor a indemnizar pela morte de Rui Mendes. Gilberto Madaíl, presidente da FPF, esteve ontem incontactável.

Autor: MIGUEL COSTA NUNES
Data: Terca-Feira, 17 de Fevereiro de 2004 02:33:00


in Record

1 Comments:

At 2:05 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Não, não, não. A justiça não foi aplicada em toda a sua plenitude.
Possuo documentos em originais, da Policia de Segurança Pública, em que os seus responsáveis máximos assumes erros no dispositivo de segurança que facilitaram a tragédia. Ou se, também o Estado Português representado pela PSP deveria ter sido responsabilizado pela incompetência da PSP. Reabra-se o processo e processe-se a PSP. Eu cedo os documentos aos Tribunais para o efeito. Meu E-mail jmacoutinho@hotmail.com

 

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