sábado, dezembro 06, 2003

O Estado da Nação. O que é que António Damásio, João Mangueijo, José Saramago, Luís Figo, Pauleta, Maria de Medeiros, António Borges, Maria Helena Vieira da Silva, Paula Rego, Mariza têm em comum? Todos eles saíram de Portugal antes que o país se rendesse à sua qualidade e os olhasse com respeito. Portugal é um país de pequenas vaidades e gigantescas invejas. É um país pequeno e pequenino que só depois de varrer dos lugares de poder todos os medíocres que os ocupam poderá algum dia almejar sair da letargia em que mergulhou há séculos e que se transformou em coma profundo durante o Estado Novo. Portugal é um país de parolos muito mais preocupados com a sua imagem que com o seu conteúdo, muito mais preocupado com o que os outros pensam de si que com aquilo que é realmente capaz de fazer por si. Portugal é o país que tem uma capital que terá uma obra de Frank O. Ghery mas que tem centenas de prédios em risco de ruir. Portugal é o país dos modernos estádios do Euro2004 mas que para lá de não ter infra-estruturas decentes para o serviço nacional de saúde ser condignamente prestado, nem sequer tem médicos para o fazer. Aliás, Portugal é precisamente o país que conta com uma Ordem dos Médicos – os tais medíocres no poder – que num corporativismo digno do Estado Novo continua a funcionar mais como uma força de bloqueio que como um facilitador à resolução do problema. Portugal é o país de clima ameno e de poucas tragédias naturais e de todas as tragédias por incúria. É o país das pontes e dos viadutos que caem. É o país dos fogos por falta de manutenção das matas. É o país das cheias por falta de limpeza dos escoamentos, pela construção desregrada em leitos de cheia, pela impermeabilização das zonas de absorção das águas. Portugal é o país dos compadrios, dos abusos de crianças por parte de alguns poderosos, das multas selectivamente “perdoadas”. Portugal é a Angola da Europa!