K, o Agrimensor e o iniludível paradoxo da individualidade.
A propósito da Formiga de Langton, JPP tece algumas considerações sobre Kafka. Diz: «A formiga “perde-se” da colónia por acaso, por um destino tão cego como as regras do grupo. A formiga K. é processada por erro burocrático, e, quer no Processo, quer no Castelo, nunca verdadeiramente sai do labirinto porque não há, no seu término, qualquer liberdade, logo nenhuma individualidade é possível.»
Ora, a mera perdição, a simples tomada de consciência da existência de uma colónia em que está, mas que sente exterior a si e que sente violentar-lhe o ser, é o início, no Processo, sobretudo no Castelo e menos intensamente na Muralha da China, da autonomia face ao grupo. K, o Agrimensor é exemplo do individuo que tomando consciência da sua paradoxal exterioridade ao grupo luta árdua e empenhadamente pelo reconhecimento dessa individualidade e procura a sua liberdade por via do direito a abdicar dessa mesma exterioridade. E é isto que é curioso, já que o faz para recuperar a integração e garantir o equilíbrio do próprio grupo – procurando conquistar para si o lugar de Agrimensor, que dirime quer a contradição em que o Castelo mergulha quer a angustia que o individuo K. sente.
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