A três... Jantámos. Maria levantou a mesa. Duarte sentou-se no sofá. Em três penadas Maria despachou a rotineira tarefa. Em menos tempo, Duarte, abandonou pela sala, displicentemente, os sapatos. Ainda pensei em arrumá-los – sempre evitava a má disposição da Maria - mas por certo, à semelhança do que acontecera noutras ocasiões, o gesto não seria bem recebido.
Fui ter com Maria à cozinha. Este era o momento em que menos atenção lhe merecia toda a gente. A preocupação e o zelo que dedicava ao arrumo da cozinha merecia-lhe a mesma devoção religiosa, que a atenção que Duarte dedicava, naqueles minutos a seguir ao jantar, à televisão. Coisas de formação machista... Tentei, como todos os dias, cativar-lhe a atenção. Toquei-lhe. Trocámos algumas caricias. Breves. Sei que esta nossa intimidade traz, a ela como a mim, a certeza da solidez da nossa relação. Nada nem ninguém nos separará. Depois, com um brilho nos olhos, voltou-me gentilmente as costas e concluiu a tarefa.
Voltei à sala. Duarte dirigiu-me algumas palavras simpáticas e convidou-me a sentar junto dele. Sentei-me.
Maria juntou-se a nós. Chegaram facilmente a acordo acerca do programa a ver; para mim é indiferente - não gostando de televisão, não me pronunciei.
Fumaram uns cigarros, beberam uns copos, trocaram beijos e olhares. Levantaram-se e foram, abraçados, para o quarto. Fecharam a porta como quem deixa uma mensagem clara de que querem ficar sozinhos e eu quedei-me pela sala. O sofá, só para mim, fez-me sorrir e espreguicei-me languidamente.
Adormeci. O regresso a casa de Erica, da casa ao lado, atribulado como sempre, acordou-me. Sempre me pergunto o interesse de ter uma gata em casa, que insiste em chegar quando os donos já dormem, acordar os vizinhos e sair, frequentemente, antes que se levantem pela manhã.
Indignado, sentei-me, cocei a orelha com a pata de trás e fui deitar-me com a Maria e o Duarte.
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